terça-feira, 17 de janeiro de 2012

23° semana

Você cresceu muito, minha barriga doeu, os músculos se esticaram muito rápido, fiquei um pouco sem equilíbrio, minha coluna parecia que ia se partir em duas partes. Os enjôos melhoraram, mas na seqüência comecei a ter refluxo e passei a ter que dormir reclinada. Com tantas mudanças no meu corpo e a evidencia cada vez maior da sua chegada me senti frágil e parei de ler notícias, mas mesmo assim não pude deixar de saber o que andou acontecendo lá fora: começaram a barrar o Xingu; o Kassab cometeu mais crimes contra os direitos humanos e roubou mais, entre outros delitos; mais pessoas foram despejadas das favelas do Rio, com a desculpa de risco de deslizamentos, as construtoras querem de qualquer jeito aqueles morros para fazer condomínios de luxo com vista para o mar até a Copa de 2014. E se antes eu já era uma andorinha tentando fazer verão contra esse mundo do avesso, agora com você dentro de mim, nem meia andorinha posso ser. Mas de repente você chutou, só eu pude sentir, eram chutes tímidos. As semanas foram passando, pude sentir você crescer tomando mais espaço dentro de mim e dando chutes mais fortes, que agora podem ser percebidos por qualquer um que ponha a mão sobre minha barriga. E então veio essa compreensão de que não estou fraca e inútil, estou mais forte do que nunca. Estou gerando você, sinto sua força dentro de mim, uma força tão grande que preciso descansar para que você consiga se desenvolver. Entendi que tudo mudou agora, eu sou sua mãe, e essa é a melhor coisa que eu poderia fazer por mim, pelo seu pai e pelo mundo. Fazer você, apesar de todo o desconforto com as mudanças no meu corpo, tem sido a melhor experiência da minha vida.