sábado, 17 de março de 2012

Sonhos

Tive diversos pesadelos e sonhos estranhos nos primeiros meses de gestação, depois meu sono se acalmou, parei de acordar tantas vezes a noite ressaltada com as bizarrices do meu inconsciente, que as vezes me prega peças com sonhos assustadoramente criativos e enigmáticos.
Agora eles voltaram com força total.
Li num desses sites sobre bebês e gravidez que é muito comum "sonhar com monstros, fantasmas do passado e animais" por conta da carga de progesterona que fica cada vez maior no corpo da gestante, além da ansiedade toda em se tornar de fato mãe.
Bem, a ansiedade existe mas não está me afetando de forma negativa. De alguma maneira pela primeira vez na vida, a ansiedade me deu forças pra fazer o que preciso pra receber meu filho. É uma força mágica que nunca tive na vida, um impulso forte que me faz acordar de manhã e organizar a casa, o enxolval, fazer exercícios para o parto, ler mais sobre tudo isso... Normalmente a ansiedade me paraliza, de agonia, retarda qualquer trabalho que eu tenha que fazer, e só controlando a ansiedade é que consigo executar algo necessário. A vida toda foi um combate entre meus sentimentos e o que eu queria fazer.
Agora as coisas fluem, como deve ser, e tudo vai pro seu lugar.

domingo, 4 de março de 2012

O parto domiciliar e o resto do mundo

Quando falo sobre parto domiciliar, ou mesmo sobre parto natural hospitalar, percebo que sem querer acabo por ofender a maior parte das pessoas.
Falar que uma cesárea por volta de cordão foi desnecessária, que toda mulher com gestação de baixo risco pode e deve parir sem intervenções, dizer que estourarem a bolsa artificialmente em pleno trabalho de parto fez o bebê correr risco e que esse parto acabou em cesárea por imperícia da equipe e manipulação desnecessária do parto, pode soar que estou querendo dizer que meu interlocutor é um loser, ou que a mãe dele é, ou a mulher, a irmã, a sobrinha, a tia, a vizinha, o mundo todo é loser – visto as altas taxas de cesáreas no Brasil, maiores ainda no setor privado. Existe essa mácula e a pessoa se nega a aceitar os fatos, se nega a compreender as evidencias científicas, por mais inteligente e capaz intelectualmente que ela seja. Não lê os artigos e livros indicados por mim e rebate com informações dos livros de obstetrícia defasados como se eles fossem a fonte do saber eterno.
Falar sobre parto é tocar em feridas profundas, e as coisas ainda pioram quando se trata de mulheres cesareadas por vontade própria ou por uma cega confiança no médico que a acompanhou. Como é que esse médico, tão bacana, tão bem indicado, ou mesmo um membro da família pode estar errado? Como é que essas pessoas podem abandonar tudo o que elas acreditam, rever seus sentimentos, enxergar que passaram por procedimentos desnecessários, seja em seus nascimentos ou nos nascimentos de seus filhos e aceitar de uma hora pra outra que até agora elas foram levadas pelo sistema? Que foram páreas do abuso de poder de seus médicos de confiança?
E os médicos? Como aceitar que as escolas de medicina adotam livros de obstetrícia pra lá de ultrapassados, e praticamente ter que jogar no lixo a maior parte de sua formação como GO? Como, de repente, esperar que uma pessoa abandone tudo que ela acreditou até agora, que abandone o castelinho onde se escondeu pela vida toda e agora querer que ela saia por aí andando sendo que ela não sabe nem o que é andar?
A única coisa que as pessoas podem fazer é ter a certeza de que eu sou uma louca e escolhi parir em casa com uma parteira porque não sei o que estou fazendo. Estou trilhando um caminho extremamente perigoso, ouvindo pessoas que não são médicos "de confiança", que não sabem do que estão falando, que seguem uma modinha – apesar de existirem apenas alguns parcos partos domiciliares no Brasil, depois que a Gisele Bundchen pariu em casa, o parto domiciliar tem fama de estar na moda.
Sou eu que estou sendo guiada por perigosas e enganosas ideias libertárias, e ignoro os avanços da medicina correndo o grande risco de ter um natimorto e até mesmo perder minha vida no parto –“você não viu aquela australiana??” - me perguntam, se referindo a Caroline Lovell que faleceu na UTI do hospital no dia seguinte ao parto de parada cardíaca em decorrencia de problemas cardíacos no pós parto. E se eu rebater com um “as pessoas também morrem do coração nas aulas de aeróbica na academia” o argumento não tem poder, porque sou eu que não quero ver a verdade, sou eu que não quero aceitar que estou errada, sou eu que não quero dar o braço a torcer.
Eu quero ser moderninha, descolada, neo hippie, antenada. Quero fazer diferente pra aparecer à custa da vida do meu filho. Não é porque eu quero recebê-lo em meus braços e ter a chance de nos olhar por um longo tempo, ter tempo pra conhecer suas feições e ele às minhas, sentir seu cheiro, deixá-lo sentir-se seguro no meu colo reconhecendo meus batimentos cardíacos. Não é porque quero que ele não sofra intervenções desnecessárias do protocolo hospitalar, como ser levado pra ficar por horas "em observação" num berçário, longe de mim, numa separação violenta, que o fará chorar em coro com mais 15 ou 20 bebês, cada um deles num berço estranho e vazio, longe de tudo que conhecem até então. Não é porque quero que ele por si só encontre meu peito e mame quando sentir que deve, sem efeitos de anestesia, sem luzes atordoantes de hospital, sem enfermeiras pra lá e pra cá intervindo nesse nosso momento mágico... Eu devo ser mesmo egoísta por querer dar o melhor por meu filho no nascimento dele.