sexta-feira, 20 de abril de 2012

Nuno, meu filho,

Está chegando a hora, sua vida uterina está chegando ao fim.
Fiz de tudo pra que você se sentisse bem aí, mas a coisa está ficando apertada, você está crescendo bastante, e apesar de não parecer pra você agora, isso é um ótimo sinal.
Em breve seremos eu e você trabalhando juntos pra que você conheça esse mundo aqui do lado de fora. Farei de tudo pra que essa passagem seja o mais sutil e menos agressiva possível pra você.
Estou muito ansiosa pra te conhecer mas não quero que você se apresse por isso, quero que você fique tranquilo e aproveite cada momento, agora e sempre.
A vida é isso, feita de momentos, basta que nós saibamos aproveitá-los.

Com todo amor que há nesta vida,
Sua mãe.

Monstros internos

Tantos pensamentos, tantas dúvidas...
Me sinto tão perdida, apesar de parecer muito certa e muito convicta de todas as escolhas que fiz.
A verdade é que não sei nada!
Eu não tenho medo do evento fisiológico do parto, assim como a maioria das mulheres que temem as dores, as contrações, o sofrimento fetal, temem uma vagina lacerada, uma bexiga caída... Os eventos fisiológicos do parto me parecem naturais, o que temo de fato é o evento psicológico do meu parto, que pode atrapalhar todo o processo fisiológico natural. Fico pensando nas coisas todas que hei de elaborar durante um trabalho de parto... Esses rancores, essas tristesas, essa mãe fugitiva que tive, os abusos que sofri. Será que tudo isso me virá durante o trabalho de parto?? O que mais eu tenho pra elaborar? Será que tenho que perdoar minha mãe pra parir?? Se não consegui fazer isso em 20 anos, como farei em algumas horas??
Sempre preferi as dores físicas às emocionais. Não é a toa que tenho uma tatuagem que cobre 1/4 do meu corpo. Nunca reclamei a toa de dor, não gosto de parecer fraca, de me sentir fraca, mas a gestação já me ensinou isso, de que agora tudo mudou, eu serei o que tenho que ser, sentirei o que tenho que sentir e não há nada que eu possa fazer sobre isso a não ser abraçar tudo e deixar a contecer.
Acho que a resposta é essa: abraçar, o que quer que seja. Abraçar meus monstros seja lá de onde eles vierem ou quão feios pareçam. Vou abraçar toda e qualquer coisa feia, bonita, tosca, medonha, e assim, ao final de tudo quem estará nos meus braços é meu filho.
Que venham, que venham todos os monstros do mundo!




segunda-feira, 2 de abril de 2012

novos caminhos

Sei que estas semanas finais de gestação são meus últimos momentos comigo mesma, a partir do parto serei outra, serei mãe, serei dois: eu e Nuno. Nunca mais só eu, mesmo depois dele grande, adolescente ou adulto, sempre terei  ele comigo, ou a separação dele comigo. 
“Filhos são pra sempre” dizem por aí, e agora com ele crescendo tanto  e espremendo meus órgãos dentro da minha barriga começo a ter uma leve mostra disso. 
Em breve serei uma outra pessoa. A gestação já me mudou um tanto e o puerpério vai reformular tudo a partir do que eu nem imagino que seja.  Eu sei que depois que ele vier, tudo será absolutamente diferente.
Dizem que as mulheres não cabem mais nas próprias roupas, não porque não tenham emagrecido no pós parto, mas sim por não caberem psicologicamente em suas roupas de antes da maternidade.  Não cabem mais nos seus antigos empregos, nos seus antigos valores de vida...
Tenho medo, um medo enorme de não caber mais em mim, de me perder numa estrada sem volta onde terei que enterrar essa parte de mim, talvez uma parte que eu goste muito, e começar tudo de novo, num ciclo novo, numa nova Carolina que até engravidar estava tão encaminhada e certa de seu destino...