terça-feira, 8 de novembro de 2011

"mulher barriguda que vai ter menino, qual o destino que ele vai teeer?"

Novo código florestal é aprovado no senado.
Quando há um deslizamento de terra no Rio ou em Santa Catarina, a Rede Globo dá total cobertura, mostrando a tragédia dessas pessoas que perderam tudo. De todos os lugares do Brasil, pessoas mandam mantimentos, água potável e dinheiro, cidadãos complacentes com a tragédia alheia, mas não entendem que isso tem a ver com a política “tapa sol com a peneira” porca de Brasília. Agora, o senado anistia madeireiros e posseiros, criminosos de alto e baixo escalão. Dão poder a fazendeiros para arrasarem com reservas florestais, entre outros delitos contra o meio ambiente, e contra a humanidade, já que no pé em que estamos não haverá conforto, e indo por esta vereda, nem mesmo vida humana na Terra nas próximas décadas.
Alunos da USP são detidos em invasão a reitoria, pedindo a expulsão da polícia militar do campus.
Enquanto o pau come e é noticiado pelo “brilhante” jornalismo brasileiro nos canais de TV, as pessoas no Facebook malham os cem alunos que foram lá reinvidicar seus direitos de ir e vir dentro da universidade. Já que não se trata apenas de PM apreendendo moleque maconheiro, como muitos querem que seja, mas sim, de uma conduta estúpida militarista e ditatorial do estado de São Paulo sobre os cidadãos em geral. E esta deveria ser a reação de todos os cidadãos: exigir segurança, exigir seu direito de ir e vir, exigir respeito. Mas pelo visto estamos caminhando no sentido oposto, vide o toque de recolher decretado pela PM ao CRUSP. Eu queria ver se alguém resolvesse que o pessoal ali de Alphaville 5 não pode sair de madrugada...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A singela beleza do primeiro trimestre de gravidez

No inicio era enxaqueca e um leve enjôo, e um cansaço sem motivo antes mesmo do atraso menstrual. Depois com os hormônios galopantes que invadiram meu corpo, ganhei duas idas ao pronto atendimento pra soro e medicação e uma bexiga solta - a cada jato de vomito que vinha por cima mandava um jato por baixo e assim estrelei um freeakshow escatológico no ambulatório do hospital: uma poça de mijo e vômitos compulsivos que assustou até os enfermeiros de plantão. Junto a isso tudo, muitos gases e dores de barriga porque o intestino, também influenciado pelos hormônios, fica “preguiçoso” e quase para de funcionar.
Agora os enjôos ficaram mais leves, com vômitos menos “sofridos”, se tornou uma coisa natural vomitar, simplesmente pego o saquinho da bolsa, sento onde estiver e vomito, depois dou o devido fim ao saco plástico e mastigo um chiclete de menta, o único que consigo sentir o cheiro. Mas com o alívio dos enjôos e vômitos fortes vieram dores de cabeça moderadas que me assolam juntamente com uma cólica chata que vai até a lombar: ficar em pé dói, sentar dói, deitar dói, agachar então, nem se fala!
O último exame de ultrassom tirou todas as dúvidas quanto a um bebê saudável se formando em mim, mas identificou uma placenta prévia, que quer dizer que devo fazer repouso ou corro o risco de aborto. Bacana, tanto esforço, tantos vômitos, calças molhadas e humilhação pública, tanta água potável e alimentos desperdiçada na privava pra agora eu ter uma placenta “defeituosa” que não me deixa voltar a ter minhas atividades sob o pretexto de não segurar meu filho.
Pelo visto terei todos os “sintomas” da gravidez, TODOS.
Fico pensando que se sou tão suscetível aos hormônios, ao menos existe a esperança de um parto rápido quando a ocitocina tomar meu corpo e começar a dilatar meu útero durante o trabalho de parto.
Que Darwin seja bondoso!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

de volta aos 15

Sinto como se tivesse voltado à adolescência, é como se meu auto controle, minha razão, meu bom senso e tudo o que consegui arduamente nesse processo de “adultização” tivesse ido por água abaixo.
Eu sinto uma fome avassaladora e depois um sono que mal me mantenho em pé, durmo muito e acordo em intervalos para beber água e fazer xixi. Também acordo assustada com alguns sonhos que normalmente remontam fatos ocorridos no passado, daquele jeito que são meus sonhos, sempre vestidos pro carnaval. Por vezes acho que tenho uma bicha carnavalesca afetada no lugar do inconsciente.
As espinhas e cravos voltaram com força total e o pior é que nem tratamento para pele posso fazer, já que até mesmo um inofensivo sabonete comprado na farmácia pode afetar o bom desenvolvimento do bebê. Nessas horas a única coisa possível a fazer é se contentar com uma cara de Choquito e não se olhar muito no espelho pra não assustar.
Sinto um saco cheio de tudo, do mundo a minha volta, do tempo que não passa, da barriga que não cresce... Sinto palpitações de pensar em voltar a trabalhar, eu quero muito, mas ao mesmo tempo parece que meu corpo não deixa.
É isso, como na adolescência, meu corpo não alcança a mente, ou vice e versa.

ressaca


Os enjôos pareciam que estavam prestes a desaparecer, já que o corpo lúteo (responsavel pelos enjoos da gravidez) vai embora dando lugar a uma linda e protetora placenta nesta época da gestação em que me encontro.  Mas hoje acordei como que virada do avesso. Não tive forças pra levantar da cama, muito menos pra dirigir até a casa da minha tia Tereza (tia salvadora de todas as horas de desespero) que desde que apertaram os enjôos pacientemente cozinha pra mim todos os dias, perguntando sempre minhas preferências e me alimentando com o que consigo comer. Um tempinho depois do almoço ela me serve um café com leite que só ela sabe fazer, já que não agüento nem o cheiro de outro café.
Acho que fui com muita sede ao pote, desconsiderei minha condição de gestante nesse final de semana, agora sinto a ressaca arrebatadora. 
Meu pai foi buscar o almoço que quase não consegui comer... 

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

alma de vira lata


Não sei se estou colocando o carro na frente dos bois, mas desde que engravidei, e até mesmo antes, uma das minhas maiores preocupações é a maneira em que meu filho virá ao mundo.  Ou seja, a hora do parto. Bem, mesmo que seja uma preocupação antecipada, eu sou do tipo que anda com os bois pra trás mesmo, então, já comprei cinco livros sobre parto e um sobre maternidade, li tudo que havia na internet sobre parto humanizado e até mesmo entrei num grupo de discussão sobre o assunto. Mesmo assim, ainda tenho infinitas questões a resolver até chegar ao que eu chamaria de “clareza sobre o parto”.
Mas uma das coisas que aprendi nos livros é que é de grande ajuda a mãe cantar entre as contrações, então estou pensando em algumas musicas que eu poderia cantar para o bebê nascer.  Daí me lembrei d’Os Saltimbancos, meu disco preferido na infância. Sem dúvida,  minha música preferida é a da gata e então eu me toquei o quanto em pequena eu era a gata do “apartamento, almofada e trato” e o quanto eu já almejava sair pela rua ” cantando e virando lata, sendo eu, mais eu, mais gata...”
Não é engraçado que minha música preferida na infância seja hoje uma música que me identifico pela minha trajetória de vida? De sair da bolha que a família tentou me manter por toda a vida e hoje ser de fato eu, do jeito que nasci pra ser?
Aí vai o link pro vídeo:
http://youtu.be/K9KQzxAuKlg

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

carta ao minduim

Há duas semanas te vi pelo aparelho de ultrassom, você se parece com um amendoim com casca e por isso eu e seu pai te apelidamos de Minduím. Colei uma foto sua na parede do banheiro, perto da privada para que sempre que me sentir mal eu me lembre que é por você, meu pequeno Minduím, e não fique tão triste por não segurar aquela comida gostosa no estomago...
Seus braços e pernas estão terminando de se formar esta semana e você já demonstra o sexo que tem, ainda que em abreviação no “broto genital”.
Sempre me imaginei mãe de uma menina, mas sentir você crescer dentro de mim faz com que todas as minhas preferências e sonhos se tornem obsoletos. Apenas o que desejo é que você seja o que quer ser, sempre.  Por enquanto escolherei muitas coisas por você e te ensinarei tudo que conseguir, até um futuro onde você será responsável pelas suas próprias escolhas. Você também já me ensina coisas, mesmo sendo apenas um minduim escondido nas minhas entranhas...
Você é só um embrião, mas já tem preferências: gosta de acordar cedo e de tomar banho pela manhã, tem muita fome na hora do almoço e parece que é vegetariano. Quase o oposto de mim que sempre preferi dormir tarde e acordar tarde, tomar banho antes de dormir e sempre comi de tudo, inclusive carnes. Talvez o problema com carne seja meu com os hormônios da sua gestação, vamos ver.
A partir da semana que vem você será promovido a feto e passará a abrir a boca e sentir o sabor das coisas que eu como, espero aos poucos voltar a comer alguma carne para que você vá se acostumando. Quero te apresentar esse mundo de sabores da melhor maneira possível. 
Não vejo a hora de te ver de novo através daquele aparelho mágico, mesmo com todo o metal, vidro e softwares entre nós, te ver e ouvir seu coração dá uma sensação ímpar de felicidade.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

reinfancia

Sinto que voltei a ser uma criança, não apenas no sentimento de menina que precisa de mãe, mas também nos meus sentidos. Meu olfato se tornou quase “absoluto”. Se antes eu já tinha problemas com temperos prontos, agora eles me causam ânsia apenas por sentir seu cheiro - e eu sinto de longe. O gosto do conservante nos industrializados me enoja um pouco, mas estou aprendendo a aceita-lo melhor, no início foi difícil. Sinto que se me colocassem num quarto fechado e trouxessem coisas pra dentro dele, eu de olhos vendados poderia dizer o que haveria lá... Meu sonho em me tornar como o personagem d’O Perfume parece que se realizou, sinto que me tornei um pouco Grenouille e com isso os odores me arrebatam. As sensações são fortes e meu nariz vai sempre na frente farejando tudo, ditando meu caminho pela rua, às vezes atravesso diversas vezes de uma calçada a outra só por causa dos cheiros, uns me repelem outros me enebriam.
Minha audição também está muito mais sensível, me incomodo horrores com ruídos e ouço com mais prazer minhas musicas preferidas, descubro instrumentos e tons que não ouvia antes, é quase como fumar muita maconha pra ouvir musica, mas com uma constancia da "loucura".
Meu foco e atenção estão modificados também, se antes eu já me esquecia de nomes e afazeres, agora estou batendo o record. Quando esqueço de algo importante me lembro sempre daquela sensação de deslocamento e vergonha frente a professora que me cobrava a lição a qual eu esqueci completamente que existia. Tento deixar pra lá, falo pra mim mesma que estou “gestonta” e que isso faz parte, mas as vezes não é o bastante pra me consolar.
Ando assim, meio criança imatura que sente tudo ao extremo, que vive apenas o agora. Que chora e se descabela por quase nada. Já entendi que não há a continuação de uma vida que eu tinha, há uma outra vida após a gravidez. O melhor a fazer é aceitar e me acostumar porque a parteira que me acompanha acaba de dizer que minha forma de pensar, meu raciocínio lógico e etc, só terei em partes novamente após a amamentação.
"O bagulho é louco e o processo é lento!"

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

epemerese gravídica

Sinto que ao engravidar perdi a capacidade de "deixar pra lá", não existe mais o "esse assunto fica pra depois". Eu tenho sonhos estranhos, com pessoas do passado, situações as quais achei que estavam sob controle, "ao passado o que é passado". Mas de alguma maneira ao tentar esquecer ou deixar pra depois qualquer desses assuntos, os enjôos pioram, e muito. Fico de cama, vomitando tudo que como, e quase que instantaneamente passo a me questionar sobre minha capacidade em me tornar mãe, minha capacidade de agüentar situações em que não tenho controle e manter a calma. Assim como deve agir uma boa mãe.
Vômitos intensos e incontroláveis me tomam, lembrando a personagem do "Exorcista". Seria incrível poder resolver tudo isso chamando um padre, já que os médicos conseguem apenas fazer o diagnóstico, o qual me causa mais náusea: “epemerese gravídica”. O nome ressoa em meus ouvidos a cada jato de vomito que sai de mim. Me lembro da minha mãe segurando minha testa em frente a privada dizendo que já vai passar, me servindo chá com torradas e soro pra repor os nutrientes. Me lembro das sopas que minha avó mandava pelo meu pai no final da tarde. Aquelas sopas curavam tudo, nenhum remédio neste mundo tem esse poder, e eram deliciosas, nutria o corpo e alma.
Não tenho mãe pra segurar a testa há quase 19 anos, e nem mais avó pra mandar sopa, mas inadvertidamente esta gravidez me fez voltar a me sentir como aquela menina que precisa de todos os cuidados que só elas poderiam dar.

domingo, 16 de outubro de 2011

do projeto ao concreto

Do final de 2010 a junho de 2011 eu não menstruei se quer uma vez sem fazer um exame de farmácia que dava sempre negativo e me aliviava a TPM trazendo a menstruação. Nós resolvemos ser pais e decidimos engravidar. Mas em junho de 2011 eu finalmente engrenei no projeto do livro e toda a minha vida passaria a seguir um cronograma. Passei o final de julho e início de agosto viajando pelos interiores do Pará e quando voltei, já havia menstruado e estava, para minha surpresa, com suspeita de malária. Depois de alguns dias brincando de paciente do Dr. House no Ambulatório dos Viajantes do HC, os médicos descobriram que todos aqueles sintomas não eram uma doença amazônica e sim uma simples diarréia bacteriana que me enfraqueceu e me deu uma bela gripe pra arrematar.
Depois de medicada e já com a confirmação de que não tinha trazido alguma peste amazônica pra São Paulo, fiquei mais alegrinha e não deu pra segurar a saudade do marido, mesmo sendo dias férteis pra mim.
No feriado de 7 de setembro, cinco dias depois da data da menstruação que não veio, quem comprou o teste de farmácia foi ele, pela primeira vez. Mandei comprar um que medisse HCG, apesar do despreparo do balconista que não fazia idéia do que era HCG, ele trouxe o exame certo. Depois do xixi na tirinha, apareceram duas risquinhas fortes, mesmo não sendo meu primeiro xixi do dia. Isso queria dizer que estava grávida, muito grávida!
Acho que com tantos negativos, ele até esqueceu o que eu tinha ido fazer no banheiro... Quando saí, fiquei ali sentada ao lado dele no sofá por vários minutos em silencio, estava em choque. Depois fui pro computador tentar trabalhar, e então quando parecia que minha voz poderia sair novamente eu perguntei pra ele se ele não queria saber o resultado do exame. Ele respondeu afirmativamente e depois que eu disse que deu positivo ainda tive que repetir algumas vezes, ele não acreditava, ficou muito feliz, me abraçou e eu comecei a chorar. Ele perguntou por que eu estava chorando e a resposta foi: estou morrendo de medo!
Sim, é isso, apesar de termos planejado, apesar de eu querer ser mãe, eu ainda não sei como raios vou conseguir me transformar, de filha órfã que sou, em mãe!